Há exatamente um ano (8/1/23), o Brasil sofria um dos mais difíceis testes de resiliência democrática das últimas décadas, desde o fim da ditadura militar. A tentativa de um golpe antipopular, que se desenhava com a invasão da sede dos Três Poderes, em Brasília, se converteu em uma ameaça real, mas felizmente debelada. Entre outros fatores, o golpe foi contido por uma reação rápida da sociedade civil e de parte das autoridades legalistas e comprometidas com a estabilidade democrática do país.
Um golpe que vinha sendo gestado há tempos pelo bolsonarismo. O ex-presidente, hoje inelegível, sempre tramou contra a democracia brasileira. Infelizmente, até grandes veículos de comunicação fecharam os olhos pra isso, antes e durante seu governo. Criaram uma falsa equivalência política com a esquerda, venderam seu projeto neoliberal e relativizaram os longos ataques a democracia.
Temos que responsabilizar também as grandes plataformas digitais, que garantiram a difusão do discurso da extrema direita, de ódio e baseado em desinformação, para população brasileira. Lucraram, e ainda lucram, milhões com esse conteúdo, e atuam, sem pudor, para evitar uma regulação democrática e essencial.
Apesar de ter saído vitoriosa desse embate decisivo, a democracia no Brasil segue ameaçada. De um lado, historicamente, por ser uma democracia inconclusa, sem direitos sociais devidamente garantidos à maioria da população, inclusive o direito à comunicação. Do outro, a ameaça paira porque, novamente, estamos deixando de acertar contas com a nossa própria história, para que a desfaçatez não se repita. Por isso, viemos a público destacar que é preciso identificar e responsabilizar os mentores intelectuais do golpismo, e não apenas aqueles e aquelas extremistas que foram usados como massa de manobra para impor o caos e a violência naquele fatídico domingo, 8 de janeiro de 2023.
Importante lembrar que, mais uma vez, profissionais da imprensa estiveram na linha de frente, registrando e denunciando a tentativa de golpe. Muitos e muitas foram alvos de agressões físicas e verbais e tiveram o livre exercício da profissão ameaçado, como ocorreu durante os quatro anos de governo Bolsonaro.
Estamos vendo se repetir uma tentativa de acomodação para livrar agentes militares de alta patente, políticos e empresários da responsabilidade por atentar contra a democracia. E se essa rota não for corrigida, daremos de cara com novas ameaças no futuro.
Convocamos as e os jornalistas do Distrito Federal para, mais uma vez, refletir sobre essa data. Não há como desvincular o golpismo da extrema direita das forças sociais, institucionais e econômicas que deram sustentação, nos últimos anos, à destruição dos direitos da classe trabalhadora, às ameaças à liberdade de imprensa e do exercício do jornalismo e aos ataques à democracia brasileira.
É preciso seguir alerta na defesa intransigente da Democracia e responsabilizar todos os envolvidos na tentativa de golpe, para que nunca mais aconteça. Sem anistia!